Flexões de Rêber Apo sobre a libertação
das mulheres
A sociedade não é uma estrutura simples de classes, mas um campo de batalha histórico, multifacetado e atravessado pelas relações de gênero. O primeiro e maior problema da humanidade é a contrarrevolução iniciada com a escravização das mulheres, que teve como alvo direto a sociabilidade construída em torno delas. A violência doméstica, os feminicídios e a opressão patriarcal vivenciados hoje são reflexos contemporâneos desse ataque histórico.
A estrutura semelhante a castas que destruiu a sociabilidade e o comunitarismo femininos transformou-se, posteriormente, na assembleia dos deuses da Mesopotâmia, depois nos sacerdotes sumérios e, em seguida, nos faraós e reis, perpetuando a dominação patriarcal sobre a sociedade.
Hoje, a mulher é a matéria-prima mais valiosa do capitalismo. Seu corpo é mercantilizado, sua personalidade convertida em objeto de mercado. Até mesmo seu espírito foi invadido — invadido por homens. A mulher vive com a adaga da servidão que a mentalidade patriarcal cravou em suas costas.
A hierarquia social dominada pelos homens, construída ao longo de milhares de anos de lutas civilizacionais, produz hierarquia, violência e conflito. A civilização masculina, fundada no Estado, privou as mulheres da linguagem, da produção, do controle sobre seus corpos e, por fim, da própria sociedade. Sem o reconhecimento dessa realidade, nenhum passo em direção à liberdade pode ser dado.
Os problemas impostos às mulheres pelo sistema dominado pelos homens precisam ser compreendidos e enfrentados. Diante dos feminicídios, da violência doméstica, da violência contra a mulher, da discriminação e da exploração, percebe-se que o nível de escravização é muito mais profundo do que se imagina. A mulher foi completamente degradada, e sua realidade, distorcida.
As tornozeleiras usadas como adorno, os piercings no nariz — todos esses elementos são sinais e vestígios da escravidão transmitidos da história até os dias atuais. Na modernidade capitalista, a servidão da mulher foi ainda mais aprofundada: o sistema transformou as mulheres em objetos de decoração e de comercialização. Para romper com essa escravidão sistematizada e alcançar a libertação, são necessárias profunda reflexão e organização.
Nenhum movimento de liberdade social que não coloque a libertação da mulher no centro pode ser uma verdadeira revolução. Considero as relações atuais entre homens e mulheres profundamente degradadas. Abordamos essas relações tendo a liberdade das mulheres como eixo central. Grande parte de nosso trabalho é realizada com mulheres.
Resolver as relações e contradições entre homens e mulheres é fundamental. Analisamos minuciosamente a dominação masculina, que bloqueia a liberdade das mulheres e as escraviza de múltiplas formas. Desenvolvemos, assim, uma sociologia da liberdade.
É evidente que ser mulher é difícil e que a libertação não é fácil. Ainda assim, as mulheres devem ousar. Devem assumir a liderança na remoção da adaga da dominação masculina cravada nas costas da humanidade e na construção de uma vida igualitária, livre e democrática.
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